quinta-feira, 9 de junho de 2011

A SAÍDA DO PALOCI

O PT E A CRISE DO MINISTRO PALOCCI  
Artigo de Elói Pietá – secretário geral nacional do PT
Para os petistas, não sair em defesa de Palocci foi uma reação contra o risco de distanciamento do PT em  relação à sua base social. Por  isso estamos com  a  presidenta Dilma  e  apoiamos  sua  dolorosa  atitude  nesta  hora. Mesmo tendo  que  perder  um ministro  tão  importante,  ou  tendo  que  parecer  vencida pela  pressão  das  oposições,  ela  preferiu  não  perder  o  sentido  social  de  seu governo.
Os  petistas  não  contestam  o  direito  que  Palocci  tinha  de  exercer  uma atividade  privada  quando  saiu  do governo  em 2006  e de  ter  sucesso nela. O que  causou  espanto  e  levou  os petistas  a  não  apoiarem  sua  permanência  no governo,  foi  a  origem  de  seus  ganhos  privados  (orientar  os  negócios  de grandes empresas), a magnitude dos resultados (dezenas de milhões de reais), e o alto padrão de vida que ele se concedeu  (representado pelo  investimento em moradia fora de sua própria origem de classe média).
 Nós,  petistas,  éramos  ‘de  fora’  nos  tornamos  ‘de  dentro’  do  Estado brasileiro. Até hoje a elite rica ou a classe média alta de doutores não simpatiza com  ver    essa  geração  vinda  dos  movimentos  de  trabalhadores.  Somos herdeiros dos esforços que o Partido Comunista representou ao  levar em 1945 ao  Parlamento  trabalhadores  historicamente  excluídos  do  poder  (por  pouco tempo,    que  logo  posto  na  ilegalidade).  Somos  herdeiros  daqueles  que  no início dos anos de 1960 ensaiaram alguma presença no Estado através de suas lideranças sindicais e de partidos socialistas nascentes (tentativa abortada com o golpe militar).
 Enfrentamos  com muitas  dificuldades materiais  as  eleições.  Uma  após outra,  elegemos  homens  e  mulheres  vereadores,  deputados,  prefeitos, senadores,  governadores,  até  chegar  três  vezes  à  presidência  da  República. Muitos  se  tornaram  assessores  nos  parlamentos,  nos  governos,  diretores, secretários, dirigentes de empresas públicas, ministros. 
 Quando  estávamos  perto  do  poder  ou  nele,  as  empresas  privadas ajudaram  nossas  campanhas  e procuraram  nos  aproximar  delas. Queremos  o financiamento  público  dos  partidos  para  não  depender  delas.  Respeitamos  os empresários, mas com a devida distância. 
 Não queremos sair do que fomos. Sabemos que as relações econômicas e  as  condições  materiais  de  vida  terminam  moldando  ideias  e  ações.  São milenares  as  reflexões  que  alertam  para  isso.    Vamos  recordar  alguns exemplos. 
  longe,  o  filósofo  grego  Platão,  em  A  República,  dizia  que  os governantes  das  cidades-estado  não deveriam possuir  bens,  exceto  aquilo de essencial que um cidadão precisa para viver. Que deveriam ter o ouro e a prata apenas na alma, porque se fossem proprietários de terras, casas e dinheiro, de guardas que eram da sociedade se transformariam em mercadores e donos de terras, então, de aliados passariam a inimigos dos outros cidadãos. 
 A  Revolução  Francesa  no  fim  do  século  18  fez  brilhar  pela  ação  dos excluídos  as  ideias  de  igualdade,  fraternidade  e  liberdade,  contra  a concentração da riqueza e do poder nos reis, na nobreza e no clero. É verdade que depois houve a  restauração  do  Império, mas  também  se  fortaleceram  as ideias socialistas.
 Marx  e  Engels,  que  buscavam  a  emancipação  do  proletariado, consideravam que, para modificar a consciência coletiva era preciso modificar a base  material  da  atividade  econômica.  Não  bastava,  portanto,  a  crítica  das ideias, porque o pensar das pessoas reflete seu comportamento material.
 Filósofos sociais posteriores, mesmo aqueles cujas  ideias deram suporte ao liberalismo, como Max Weber, falavam de estamentos sociais definidos pelos princípios  de  seu  consumo  de  bens  nas  diversas  formas  de  sua maneira  de viver.  
 Já dizia Maquiavel que a política se altera no ritmo incessante das ondas do mar. Os partidos tendem a ser como estas ondas: vem de muito longe, vem crescendo,  até  que  um  dia  se  quebram  mansamente  nas  praias  ou  mais rudemente nos rochedos. Defender vida modesta para políticos vindos da vida modesta  das  maiorias,  é  para  o  PT  uma  das  condições  indispensáveis  para comandar  um  processo  de  distribuição  da  renda  e  inclusão  das  multidões excluídas,  embora  não  a  condição  única.  Para  cumprir  esta  condição  e  nosso papel,  é  essencial  sermos,  como  temos  sido:  fiéis,  na  nossa  vida  pessoal  e política,  aos milhões  e milhões  de  brasileiros  que  tem  votado  e  confiado  em nós. É  legítimo para nós progredir ao  longo da vida, desde que todos cresçam na mesma medida em que o bem-estar do povo cresce.
Voltando ao companheiro Palocci:  respeitamos  suas opções, admiramos sua  competência,  reconhecemos  seu  trabalho  a  serviço  do  povo.  Mas,  pelas razões  expostas,  o  PT  mostrou  que  prefere  o  político  de  vida  simples  que conhecemos, ao empresário muito bem sucedido sobre o qual agora se fala. 
Nesse mix  de  filosofias  sobre  a  riqueza  e  seu  reflexo  no  pensamento social, terminamos lembrando o imperativo categórico de Kant: aja de tal modo que  a máxima  de  sua  ação  possa  ser  universalizada,  isto  é,  para  que  todos sejam  iguais  a  você.  Por  isso  que,  para  continuarmos  a  ser  um  partido  dos trabalhadores, não é bom que cultivemos o ideal de empresários.

Um comentário:

  1. meu amigo discordo deste Post. a questão é briga por poder. sabem que palocci é futuramente um potencial candidato a susseção de Dilma. nada ilegal e nada imoral. ex- ministros e ex presidentes dão consultorias. umas valem seu peso em diamante. independentemente de distanciamento das bases, a questão é e sempre será esse fisiológico e sedento PMDB dando recado para dilma,

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