Delúbio Soares (*)
Em todas as eleições presidenciais disputadas pelo PT o chamado “risco Brasil” foi usado de forma cruel, impiedosa e desonesta contra nós petistas. Se Luiz Inácio Lula da Silva vencesse os seus oponentes – Fernando Collor de Mello, em 1989, Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, e José Serra em 2002, respectivamente – o céu desabaria, o chão se fenderia, os cofres dos organismos financeiros e dos bancos internacionais se fechariam ao Brasil, nossa economia entraria em colapso, o real valeria pouco mais que nada, as empresas internacionais deixariam de investir aqui e entraríamos para o rol das republiquetas infelizes, dos países fadados ao eterno subdesenvolvimento e à pobreza eterna. Enfim, o caos, o apocalipse, o fim dos tempos e a destruição de um país com 500 anos de história!
Em 2002, especialmente, a candidatura do tucano José Serra custou bilhões de dólares ao povo brasileiro. Talvez tenha sido o maior prejuízo de nossa história. Nem a segunda guerra mundial, a guerra do Paraguai ou os grandes períodos recessivos internacionais, como o “crash” da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 ou o colapso do mercado imobiliário que levou à crise bursátil de agosto de 2008 nos Estados Unidos, nos custaram tanto quanto o auxílio luxuoso dos banqueiros e especuladores à candidatura Serra, elevando o dólar a mais de R$ 4,00 às vésperas do pleito presidencial de 2002, aterrorizando o país. Era o “risco Brasil”, inflado no falso temor da eleição daquele que viria a ser – ao lado de Getúlio e de JK – um dos maiores presidentes da história do Brasil. Triste ironia que nos custou bilhões de dólares de nossas reservas...
Os autênticos urubus, as aves de mau-agouro que de forma contumaz e oportunista sobrevoam o cenário político e o jornalismo econômico, transformaram o “risco Brasil” numa espoleta prestes a ser detonada. E nós, os petistas, seríamos os responsáveis pelo colapso econômico e o afundamento da Nação. Já em 89, um velho líder empresarial, de quem a história não guardou o nome, chegou a vaticinar que mais de tantos mil empresários deixariam o Brasil “no dia seguinte” se os brasileiros cometessem a heresia de eleger um trabalhador sem diploma de curso superior para subir a rampa do Planalto.
Mais do que o preconceito social, prenhe de ódio e de rancor, havia uma mentira absoluta em todo esse processo político-eleitoral. E havia um risco. Ele tinha nome, localização geográfica, população, riqueza, história, presente e um futuro a ser construído. O “risco Brasil” foi um dos maiores atos de sabotagem jamais praticados contra nosso país. Um estelionato com plumagem, bico e sigla. Os especuladores, os tucanos, o capital improdutivo e as aves de mau-agouro foram os sabotadores. O povo brasileiro, essa brava gente, os derrotou a todos, como sempre aconteceu ao longo de nossa bela e sofrida história.
Vencemos em 2002 com um líder partidário, que se tornou presidente da República e se revelou notável administrador. A história já o entronizou como Estadista e o povo o tem em seu coração. Lula é um nome requisitado em foros internacionais, ouvido com atenção e acatamento, festejado pelos países que visita, pelos continentes por onde passa, falando de platéias populares até foros empresariais. Enquanto isso, outros, inconformados com o fracasso de seus governos e o ocaso tristonho e cinzento, pegam carona em debates, mesmo que necessários (como o descriminalização do uso da maconha), para conseguir algum espaço na mídia e entre a juventude, causando estranheza ao seu (escasso) eleitorado, reacionário e esnobe.
Com o sucesso do governo de Lula e a eleição da presidenta Dilma Rousseff, os êxitos das administrações municipais e estaduais do PT e dos partidos da base aliada, reduziu-se em muito o espaço para o terrorismo político-econômico. Mais de trinta milhões de brasileiros saíram da pobreza e passaram à classe média, ingressando no mercado de consumo e mudando a face do país. Nossa economia deu saltos. Ingressamos no século XXI com três anos de atraso, apenas após a posse de Lula, em janeiro de 2003, mas avançamos décadas no espectro social, no desenvolvimento econômico, na recuperação da dignidade da cidadania, resgatando milhões de irmãos nossos afundados na miserabilidade, no analfabetismo, na escuridão do abandono brutal que lhes destinou o modelo segregacionista adotado pelos governos neo-liberais do PSDB.
A chamada “grande imprensa”, mesmo que em espaço reduzido, com uma compreensível timidez, noticia que pela primeira vez os Estados Unidos, a mais poderosa economia do mundo e o país mais forte e intervencionista, “apresenta um risco de calote maior que o do Brasil”. O risco dos EUA é de 54 pontos, o do Brasil é de 41 pontos, segundo o CDS (“Credit Default Swap”). Não é sonho, é realidade.
Essa notícia impressionante, quase inacreditável, impensável anos atrás (naquele tempo em que o chanceler tucano Celso Lafer tirava os sapatos no aeroporto de Washington para ser revistado e servilmente desconhecia que representava uma grande Nação e um povo grandioso e não podia se deixar ser confundido com um terrorista ou um narcotraficante), está estampada nos cantos de páginas, perdida nos cadernos secundários, acompanhada de comentários de economistas obscuros que dizem que isso é “momentâneo”. Ora! Que seja momentâneo, mas era impensável quando o governo FHC levou o Brasil três vezes à bancarrota e aos balcões do FMI, humilhado e com a cabeça baixa! Que seja momentâneo, mas mostra que nossa economia foi gerida com competência e seriedade pelo Estadista Lula e a presidenta Dilma segue o mesmo caminho, com a determinação e a garra que lhe são peculiares.
Já me emocionei ao adentrar o edifício-sede da ONU e ver o grande painel, “Guerra e Paz”, no saguão principal. Picasso, Diego Rivera ou outro mestre das artes? Não, o brasileiro Cândido Portinari. Os olhos ficaram marejados. Na China, no coração da potência que assombra o mundo por seu crescimento, voei entre duas cidades cumprindo um roteiro a convite do Partido Comunista Chinês. Da janelinha, li na turbina: “Embraer”. O coração bateu mais forte. Noite dessas, a Royal Philharmonic apareceu num dos canais da TV a cabo. Era uma noite de gala e a Rainha Elizabeth estava presente. Heitor Villa-Lobos e seu talento eram celebrados pela secular orquestra dos ingleses. Escutei o “Trenzinho do Caipira” e me lembrei de Buriti Alegre e de que o genial maestro buscou nas raízes do Brasil e de seu folclore a matéria-prima de sua obra ao mesmo tempo brasileiríssima e universal, singela e sofisticada. Mas, os aplausos foram tantos ao final, que pelo que assisti não fui só eu que me emocionei com o talento de mais um brasileiro que o mundo admira e ovaciona.
Enquanto outros países, como os Estados Unidos, Espanha, Portugal e Grécia, enfrentam sérios problemas econômicos, o Brasil segue o rumo traçado em direção ao seu destino de grandeza e prosperidade. Não nos interessa que nenhuma outra Nação amiga sofra mais ainda com o agravamento de seus problemas. Torcemos pela solução o mais rápido possível. O que, em verdade, nos interessa é um mundo melhor, convergente, em paz, desenvolvido e democrático.
O Brasil não é mais um risco. O risco que corremos (se é que é um risco...) é o de estar muito antes do que esperávamos entre as Nações mais ricas e desenvolvidas do mundo.
(*) Delúbio Soares é professor
companheirodelubio@gmail.com
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