sexta-feira, 27 de maio de 2011

PRÁTICA ASSASSINA DO PSDB E SEUS ALIADOS

Coincidência macabra: Dorothy e o casal de extrativistas foram mortos no governo do PSDB
Dorothy Stang foi morta em Anapu, em 2005. Seis anos depois, morrem extrativistas que constavam na mesma lista de ameaçados de morte que a missionária
 
A missionária Dorothy Stang e o casal José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram assassinados por denunciarem ação dos desmatadores no interior do Pará
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, deputado Edilson Moura (PT), disse que a orelha de José Cláudio Ribeiro cortada é uma das evidências de que os assassinatos dele e de sua esposa, Maria do Espírito Santo, foram crimes de encomenda, conforme informações repassadas a ele pela Polícia.

Moura e o deputado João Salame (PPS) viajaram para Nova Ipixuna ontem (25), para acompanhar as investigações.

Ele disse que os parlamentares permanecerão no local o tempo necessário para coletar informações a serem repassadas à Assembleia Legislativa.

“Tivemos nove pessoas assassinadas no primeiro semestre, sendo sete nos primeiros três meses do ano e as duas agora. Os assassinos têm certeza que há impunidade”, disse Moura.

Para o deputado, o acompanhamento do caso pela Polícia Federal assegura que tudo o que precisa ser feito para elucidar o crime, será feito.

Moura cogitou de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para analisar a violência no campo, caso se verifique que as investigações sobre o crime não são suficientes. O deputado José Megale (PSDB) também avaliou a presença da PF como necessária, mas disse que não vê, por enquanto, de que maneira uma CPI poderia contribuir.

Ele apresentou dados colhidos junto à Secretaria Estadual de Segurança Pública (Segup) sobre o casal assassinado, que identificam denúncias de ameaças desde 2007. Nos últimos doze meses, porém, não há registros na Polícia Civil, segundo ele.

O deputado disse que o assassinato é lamentável porque o casal, como liderança extrativista, ajudaria o Pará a cumprir o plano estadual de desmatamento zero.

FORÇAS

Amigo próximo do casal de extrativistas assassinados na terça-feira, no Pará, o diretor do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNPE), Atanagildo Matos, disse ter certeza de que as mortes de Maria do Espírito Santo e João Cláudio Ribeiro da Silva foram encomendadas para prejudicar as comunidades que vêm ilegal, promovido por madeireiros da região.

Ele advertiu que, no entanto, o tiro saiu pela culatra. “Agora estamos mais fortes e unidos para defender a floresta”.

“Ainda não sabemos exatamente quem foi o mandante, porque as denúncias feitas por João atingiam diversos grupos e interesses. Mas tenho certeza de que essas mortes foram encomendadas”, disse Matos à Agência Brasil. Segundo ele, o assassinato do casal deixou a comunidade muito abatida, porém fortalecida.

“A morte deles deixou o movimento mais indignado e vamos buscar forças nessa indignação para pressionar o governo a respeitar nosso pedido e a população das florestas. Perdemos um casal muito atuante e digno. Mas, assim como as árvores que eles defendiam, eles também deixaram sementes. Precisamos continuar nossa luta. Agora vamos nos juntar para avaliar a situação e continuar nossa missão”, acrescentou o diretor do CNS.

Junto com o casal, Matos desenvolvia o Plano de Manejo Florestal de Uso Múltiplo, um projeto de sustentabilidade que atinge diversas localidades da Amazônia. “É uma experiência de uso lucrativo da floresta, mas sem derrubar nem queimar árvores”, explicou.

A entidade defende políticas dirigidas ao pequeno, médio e grande produtor. “A responsabilidade pelas florestas tem de ser de todos”, afirmou o ativista, que cobrou a prisão de todos que cometerem crimes ambientais. “Não se pode mais continuar essa política destruidora e devastadora”, disse Matos, que está no movimento desde 1978.

“Foi uma triste coincidência o assassinato deles ter sido cometido em uma data tão próxima à aprovação do Código Florestal, com essas emendas que anistiam criminosos e que delegam a municípios e estados a definição das áreas de proteção”, desabafou.

Na comunidade onde viviam Maria do Espírito Santo e João Cláudio Ribeiro da Silva, há cerca de 250 famílias ocupando uma área de 36 mil hectares. Hoje (26), ocorrerá o sepultamento dos dois seringueiros.

ATENTADO

A sobrinha dos seringueiros João Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, Clara Santos, afirmou ontem que o casal já vinha relatando ameaças e, inclusive, sofreu um atentado há cerca de um mês e meio. Segundo ela, tiros foram disparados no quintal da casa deles.

“A família estava super preocupada. Meu tio tinha pedido proteção à polícia e ao estado. Reclamava muito da falta de apoio”, lamenta a jovem sem saber dizer a que polícia o pedido foi feito.

“Mas acho injusto ele ser lembrado agora apenas pelas denúncias que fazia, em vez do trabalho que desenvolvia tanto na roça dele como na de outras pessoas, com extração de óleo, coleta de frutas. E de tudo que ele aprendia e ensinava a partir dos cursos de capacitação que fazia e proporcionava. Ele sempre acreditou ser possível lucrar sem prejudicar a floresta”, acrescentou Clara.

Polícia mobiliza 50 agentes para varredura em busca dos assassinos

A Agência Pará, do governo do Estado, informou ontem que policiais militares e civis fizeram varredura na área do Projeto de Assentamento Agroextrativista Praia Alta-Piranheira, na comunidade de Maçaranduba 2, a 45 quilômetros de Nova Ipixuna, onde foram assassinados os extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, na última terça.

Coordenados pelo secretário de Segurança, Luiz Fernandes, quase 50 policiais fizeram buscas aos acusados e a indícios para elucidar o duplo homicídio.

“Vamos descobrir culpados e responsabilizá-los pelos crimes que cometeram”, reafirmou o secretário Luiz Fernandes, em coletiva à imprensa, na Superintendência Regional da Polícia Civil, em Marabá. Ele destacou o trabalho integrado entres as polícias Civil, Militar e Científica.

Por determinação da presidente Dilma Roussef, a Polícia Federal também investigará o crime. O secretário Luiz Fernandes conversou ontem com Robert Nunes Teixeira, delegado da Polícia Federal em Marabá. Não está decidido se a PF fará apuração própria, a pedido do Ministério da Justiça, mas o secretário disse que isso não impede a cooperação.

“O trabalho integrado agiliza o processo investigatório”, ressalta Luiz Fernandes. “Os crimes de homicídio requerem uma investigação minuciosa, detalhada”, completa.

O delegado José Humberto de Melo Junior, titular da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá, preside o inquérito e é a fonte oficial de informações sobre as investigações dos crimes.

O delegado geral-adjunto Rilmar Firmino acompanhará, em Marabá, passo a passo as investigações até que os suspeitos sejam indiciados.

VELÓRIO

Cerca de 60 pessoas compareceram, até o final da manhã de ontem, ao velório do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. Os corpos estão sendo velados na casa do irmão de José Cláudio, Claudenor Ribeiro Santos, de 52 anos, no bairro São Félix, em Marabá.

Passeata marcará sepultamento do casal

Uma passeata pelas ruas de Marabá e um ato ecumênico marcarão hoje o sepultamento de Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro, 54 anos, assassinados por pistoleiros na manhã de anteontem, em uma vicinal a oito quilômetros de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará.

Os dois serão sepultados, às 10 horas, no Cemitério da Saudade, em Marabá. À tarde, representantes de movimentos sociais da região estiveram reunidos, com as famílias das vítimas, para definir a programação de hoje.

Dezenas de entidades da sociedade civil, entre as quais a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Regional Norte II, se pronunciaram em notas de repúdio ao crime. As vítimas vinham sendo ameaçadas de morte desde 1997, quando começaram a denunciar madeireiros que exploravam ilegalmente a floresta.

José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira naquele ano. Trata-se de uma área de 22 mil hectares, uma das últimas reservas de castanha-do-Pará, da região sudeste do Estado.

Há também muito açaí, andiroba, cupuaçu e outras espécies adequadas à atividade extrativa.

Rica em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros de Nova Ipixuna e Jacundá, mas também sofria pressão de fazendeiros interessados em expandir a criação de gado, segundo relato da assessoria jurídica da Comissão Pastoral da Terra - CPT.

“Eu defendo a floresta e seus habitantes em pé, mas devido esse meu trabalho, sou ameaçado de morte pelos empresários da madeira, que não querem ver a floresta em pé”, denunciava José Cláudio, primeiro presidente da associação do assentamento, sucedido pela esposa Maria do Espírito Santo.

Segundo a CPT, no final do ano passado, pistoleiros estiveram na casa do casal à procura deles. Nos últimos anos, a CPT denunciou as ameaças contra o casal no caderno sobre conflitos no campo.

IRONIA

Ontem, durante o velório, a sobrinha de José Cláudio, Carla Santos, avisou que a família vai manter a luta do casal para preservar a floresta contra os madeireiros.

“Faz 12 anos que meus tios resolveram enfrentar os inimigos da floresta. Eles trabalhavam como extrativistas, coletando frutos e óleo, sem agredir o meio ambiente. Foram ameaçados várias vezes e denunciaram isso. As autoridades assistiram tudo de braços cruzados e não fizeram nada. Agora vieram todos para cá”, ironizou, ao criticar o fato de o secretário de Segurança, Luiz Fernandes, afirmar que não há registros nas delegacias da região de nenhuma denúncia por parte de José e Maria, de que estavam sendo ameaçados de morte.

“É lamentável. Tantas vezes deram parte na polícia, e a gente até se espanta com isso”, diz. Segundo a Polícia Civil, a denúncia fora apresentada ao Ministério Público Federal em Marabá, com nomes de madeireiros de Jacundá e de Nova Ipixuna que pressionavam os assentados daquela área, em Maçaranduba, para venderem suas terras ou colaborarem no desmatamento ilegal. O Ibama chegou a abrir um inquérito para apurar o caso.

José e Maria foram mortos a tiros na estrada que dá acesso ao assentamento onde moravam.

As vítimas seguiam em uma motocicleta e foram mortos quando reduziram a velocidade para passar em uma ponte. Os autores do crime estavam de tocaia. “Eram pessoas que estavam inseridas em um contexto de lutas sociais.

Eles eram ambientalistas, viviam em um assentamento e têm uma história de conflitos de interesses com madeireiros e fazendeiros da região”, disse o delegado de Polícia Civil Marcos Augusto Cruz, que está na região para apurar o crime.

A presidente Dilma Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue o assassinato, mas até o final da manhã de ontem nenhuma orientação havia chegado à delegacia da PF de Marabá, a 50 km de Nova Ipixuna.

O delegado Robert Nunes Ferreira disse que iria à Superintendência de Polícia Civil de Marabá para se colocar à disposição para ajudar nas investigações.

PROTEÇÃO

Ontem, em Marabá, o secretário de Estado de Segurança Pública, Luiz Fernandes, reiterou que não há registros nas delegacias de Marabá e Nova Ipixuna de denúncias feitas pelo casal de que estavam sendo ameaçados de morte.

“Não foi feita nenhuma ocorrência no passado, então não se podia realizar nenhum tipo de Investigação”, ressaltou, para frisar em seguida que o Estado não tem condições de garantir proteção policial a todo trabalhador que apresentar queixas formais nesse sentido. “Primeiro temos que investigar e tentar identificar de onde estão partindo tais denúncias, para que se possa responsabilizar tais pessoas”, observou.

Questionado sobre as razões de o helicóptero da Polícia Militar que estava na região esde o início deste ano não ter ajudado a chegar à localidade onde ocorreu o duplo homicídio de forma mais rápida, o secretário informou que a aeronave está em manutenção, fora do Estado.

REPÚDIO

A Regional Norte 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou “sua profunda indignação em razão de mais um assassinato de lideranças no campo do Estado do Pará.

Diante desse triste e lamentável episódio, que escancara a deficiência do Estado Brasileiro em defender os filhos da terra que lutam em favor da vida, só nos resta exigir que esse crime não seja mais um impune”, diz a nota, ao lembrar as ameaças de morte contra missionários, bispos, padres, irmãs e leigos.

A União Geral dos Trabalhadores no Estado do Pará “não pode se calar, não pode silenciar diante de mais um fato lamentável de derramamento de sangue na região sul deste Estado, que é um dos que mais tem aberto postos de trabalho no Norte do Brasil em função das riquezas de seus recursos minerais, hídricos e ambientais, entre outros que geram renda, emprego e cifras para os cofres de nosso País.

A morte dos ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher, Maria do Espírito Santo da Silva, mancha com sangue e escreve uma história triste de heróis que estão morrendo para defender a Amazônia, defender o direito das futuras gerações que precisam ver e usufruir das benesses da mata virgem e verde que ainda resta”.

A Associação da Cadeia Produtiva Florestal da Amazônia (UniFloresta) “repudia com veemência as ações dos criminosos que culminaram com a morte do casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva. A UniFloresta informa tristemente que esta realidade não tende a acabar por mais que os entes públicos afirmem que combaterão firmemente os assassinatos e puniram os autores dos disparos”.

A Associação Nacional dos Procuradores da República lamentou “os assassinatos de José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, Maria do Espírito Santo Silva, castanheiros no Assentamento Extrativista Praialta-Piranheira, no município de Nova Ipixuna (PA).

José Cláudio e Maria do Espírito Santo eram defensores da Floresta Amazônica e do desenvolvimento sustentável. Ambos combatiam e denunciavam as explorações ilegais de madeira.

Por conta das informações e do trabalho ativo na defesa do meio ambiente, madeireiras irregulares foram fechadas e investigações policiais iniciaram-se para apurar os crimes ambientais.

Muitos dados foram encaminhados ao MPF em Marabá, que serviram de base para ações no combate à degradação da natureza. A Associação apoia uma apuração rigorosa no caso e a punição de todos os responsáveis por mais este crime contra os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável da Amazônia”.

A Coordenação Nacional da CPT, reunida em Goiânia para uma de suas reuniões ordinárias, “recebeu com extrema tristeza e indignação a notícia do assassinato do casal Maria do Espirito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, ocorrido na manhã do dia 24 de maio, no Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

Esta é mais uma das ações do agrobanditismo e mais uma das mortes anunciadas. O casal já vinha recebendo ameaças de morte. O nome deles constava da lista de ameaçados de morte registrada e divulgada pela CPT. Esta lista, junto com a dos assassinatos no campo de 1985 a 2010 foi entregue ao Ministro da Justiça, no ano passado. Mas nenhuma providência foi tomada”.
Por O Liberal em 26/05/2011

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